O centro de nossa fé deve ser o mistério da Páscoa –passagem da morte para a vida. A vida cristã é passagem: do egoísmo para a solidariedade, da indiferença para a participação, do ódio para o perdão, da divisão para a comunhão. O que aconteceu com Jesus deve acontecer conosco também.
A Páscoa de Jesus foi o ponto de partida para a Páscoa de seus seguidores. Eles o viam como alguém diferente, alguém que valia a pena seguir, alguém que tinha palavras de vida eterna.Ele era visto como um representante de Deus, um profeta, um messias.
Acreditavam em Jesus, mais ainda não tinham uma fé clara, firme. Tanto é que quando ele foi preso, quase todos o abandonaram, até Pedro o negou. Uma fé explícita só se desenvolveu após a experiência pascal, com a vinda do Espírito Santo, quando sentiram que Jesus continuava vivo no meio deles. Aí, começaram a anunciar sua mensagem de salvação.
Os discípulos fizeram também sua Páscoa: de uma fé implícita para uma fé explícita, do medo para a coragem pública e o anúncio do Cristo crucificado-ressuscitado.
Na Páscoa inicia-se todo trabalho de interpretação da vida, paixão, morte e ressurreição de Jesus. Na Páscoa tem início a cristologia. Percebemos, então, duas etapas distintas da vida do Mestre: a etapa da fraqueza (o modo humano e carnal, a vida terrena, o Jesus de Nazaré pré- pascal) e a etapa da plenitude (o modo celestial e espiritual de existência, o Cristo da fé, o Jesus pós-pascal). A partir disso, surgiram duas orientações básicas da cristologia entre as primeiras comunidades cristãs:
1 – uma cristologia descendente, ou seja, que desce do mistério para a história, da divindade para a humanidade; trata-se do Verbo pré-existente,o mediador de toda a criação (cf. Jo1,1-14; Fp 2,6-11; Cl 1,15-20) ou o Cristo ressuscitado e glorificado (cf. Rm 6, 4-11; 1Co 15,20)
Apesar da humanidade de Jesus, existem pessoas e grupos dentro do cristianismo que insistem tanto na divindade de Jesus que terminam esquecendo-se de sua humanidade.
Estas pessoas e grupos enfatizam tanto os fatos extraordinários e miraculosos da vida de Jesus, a ponto de perderem de vista sua história concreta e real.
Na prática, tal concepção leva à negação da humanidade de Jesus, em franca contradição com os dados dos evangelhos. Desta maneira, fica em segundo plano ou às vezes completamente anuladas realidades bem concretas da existência humana de Jesus: as crises, tentações, angústias, o despertar para sua missão messiânica, os conflitos com os poderosos políticos e religiosos de sua época, o tomar partido dos pequenos e pobres, as dores, o grito de abandono e sua morte de cruz
2 – uma cristologia ascendente, ou seja, que sobe da história para o mistério, da humanidade para a divindade; trata-se do Jesus terrestre.
Entretanto, apesar dos diferentes enfoques, todas as comunidades partem da fé na ressurreição daquele Jesus que foi morto na cruz. O mistério pascal une as duas orientações cristológicas. No Segundo Testamento não há ruptura entre o Jesus terrestre e o Cristo glorificado